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O tempo barroco denomina genericamente todas as  manifestações artísticas dos anos 1600 e início dos anos 1700. Além da  literatura, estende-se à música, pintura, escultura e arquitetura da  época.
Mesmo considerando o Barroco o primeiro estilo de época da literatura brasileira e Gregório de Matos  o primeiro poeta efetivamente brasileiro, com sentimento nativista  manifesto, na realidade ainda não se pode isolar a Colônia da Metrópole.  Ou, como afirma Alfredo Bosi: "No Brasil houve ecos do Barroco  europeu durante os séculos XVII e XVIII: Gregório de Matos, Botelho de  Oliveira, Frei Itaparica e as primeiras academias repetiram motivos e  formas do barroquismo ibérico e italiano". Além disso, os dois  principais autores - Pe. Antônio Vieira e Gregório de Matos  - tiveram suas vidas divididas entre Portugal e Brasil. Por essas  razões, neste capítulo não separaremos as manifestações barrocas de  Portugal e do Brasil.
Em Portugal, o Barroco ou Seiscentismo tem seu início em 1580 com a unificação da Península Ibérica, o que acarretará um forte domínio espanhol em todas as atividades, daí o nome Escola Espanhola, também dado ao Barroco lusitano. O Seiscentismo se estenderá até 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana,  já em pleno governo do Marquês de Pombal, aberto aos novos ares da  ideologia liberal burguesa iluminista, que caracterizará a segunda  metade do século XVIII.
No Brasil, o Barroco tem seu marco inicial em 1601 com a publicação do poema épico Prosopopéia, de Bento Teixeira,  que introduz definitivamente o modelo da poesia camoniana em nossa  literatura. Estende-se por todo o século XVII e início do século XVIII. O  final do Barroco brasileiro só se concretizou em 1768, com a fundação da Arcádia Ultramarina e com a publicação do livro Obras, de Cláudio Manuel da Costa.  No entanto, já a partir de 1724, com a fundação da Academia Brasílica  dos Esquecidos, o movimento academicista ganhava corpo, assinalando a  decadência dos valores defendidos pelo Barroso e a ascensão do movimento árcade.
Momento histórico
Se o início do século XVI, notadamente seus primeiros 25 anos, pode  ser considerado o período áureo de Portugal, não é menos verdade que os  25 últimos anos desse mesmo século podem ser considerados o período mais  negro de sua história.
O comércio e a expansão do império ultramarino levaram Portugal a  conhecer uma grandeza aparente. Ao mesmo tempo que Lisboa era  considerada a capital mundial da pimenta, a agricultura lusa era  abandonada. As colônias, principalmente o Brasil, não deram a Portugal  riquezas imediatas; com a decadência do comércio das especiarias  orientais observa-se o declínio da economia portuguesa. Paralelamente,  Portugal vive uma crise dinástica: em 1578, levando adiante o sonho  megalomaníaco de transformar Portugal novamente num grande império, D.  Sebastião desaparece em Alcácer-Quibir, na África; dois anos depois,  Filipe II da Espanha consolida a unificação da Península Ibérica - tal  situação permaneceria até 1640, quando ocorre a Restauração (Portugal  recupera sua autonomia).
A perda da autonomia e o desaparecimento de D. Sebastião originam em Portugal o mito do Sebastianismo  (crença segundo a qual D. Sebastião voltaria e transformaria Portugal  no Quinto Império). O mais ilustre sebastianista foi sem dúvida o Pe. Antônio Vieira, que aproveitou a crença surgida nas "trovas" de um sapateiro chamado Gonçalo Anes Bandarra.
A unificação da Península veio favorecer a luta conduzida pela Companhia de Jesus em nome da Contra-Reforma:  o ensino passa a ser quase um monopólio dos jesuítas e a censura  eclesiástica torna-se um obstáculo a qualquer avanço no campo  científico-cultural. Enquanto a Europa conhecia um período de  efervescência no campo científico, com as pesquisas e descobertas de Francis Bacon, Galileu, Kepler e Newton, a Península Ibérica era um reduto da cultura medieval.
Com o Concílio de Trento (1545-1563), o Cristianismo se divide. De um lado os estados protestantes (seguidores de Lutero - introdutor da Reforma) que propagavam o "espírito científico", o racionalismo clássico, a liberdade de expressão e pensamento. De outro, os redutos católicos (a Contra-Reforma)  que seguiam uma mentalidade mais estreita, marcada pela Inquisição (na  verdade uma espécie de censura) e pelo teocentrismo medieval.
É nesse clima que se desenvolve a estética barroca, notadamente nos  anos que se seguem ao domínio espanhol, já que a Espanha é o principal  foco irradiador do novo estilo.
O quadro brasileiro se completa, no século XVII, com a presença cada  vez mais forte dos comerciantes, com as transformações ocorridas no  Nordeste em conseqüência das invasões holandesas e, finalmente, com o  apogeu e a decadência da cana-de-açúcar.
Caratcterísticas
O estilo barroco nasceu da crise de valores renascentistas ocasionada  pelas lutas religiosas e pela crise econômica vivida em consequência da  falência do comércio com o Oriente. O homem do Seiscentismo vivia um  estado de tensão e desequilíbrio, do qual tentou evadir-se pelo culto exagerado da forma, sobrecarregando a poesia de figuras, como a metáfora, a antítese, a hipérbole e a alegoria.
Todo o rebuscamento que aflora na arte barroca é reflexo do dilema, do conflito  entre o terreno e o celestial, o homem e Deus (antropocentrismo e  teocentrismo), o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o  paganismo renascentista, o material e o espiritual, que tanto atormenta o  homem do século XVII. A arte assume, assim, uma tendência sensualista,  caracterizada pela busca do detalhe num exagerado rebuscamento formal.
Podemos notar dois estilos no barroco literário: o Cultismo e o Conceptismo.
- Cultismo: é caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante (hipérboles), descritiva; pela valorização do pormenor mediante jogos de palavras (ludismo verbal), com visível influência do poeta espanhol Luís de Gôngora; daí o estilo ser também conhecido por Gongorismo. No cultismo valoriza-se o "como dizer".
 
- Conceptismo: é marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada (arte de bem falar, ou escrever, com o propósito de convencer; oratória). Um dos principais cultores do Conceptismo foi o espanhol Quevedo, de onde deriva o termo Quevedismo. Valoriza-se, neste estilo, "o que dizer".
 
Na literatura, as características principais são:
- Culto do contraste: o poeta barroco se sente dividido, confuso. A obra é marcada pelo dualismo: carne X espírito, vida X morte, luz X sombra, racional X místico. Por isso, o emprego de antíteses.
 
- Pessimismo: devido a tensão (dualidade), o poeta barroco não tinha nenhuma perspectiva diante da vida.
 
- Literatura moralista: a literatura tornou-se um importante instrumento para educar e para "pregar" por parte dos religiosos (padres).
 
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